quinta-feira, agosto 25

Bonzinho

(Clique)

Escreveu-me uma leitora a queixar-se de serem os personagens dos meus livros gente azeda, bruta, violenta, espelhando uma humanidade em que não se adivinha carinho, um sentimento bom, uma réstia de amor ao próximo, uma ponta de esperança.

Provavelmente assim será – tudo depende da cabecinha de cada um – mas tenho eu, tem o escritor, a obrigação de agradar a quem o lê? Deve, pode, quer ele, antes de meter mãos à obra, fazer um gráfico de passáveis bondades e gentilezas, beijinhos generosamente dispensados ao longo das páginas, ternuras, fins de tarde como só há nas Bahamas?

Respondo pela negativa e por mim falo: não tenho obrigação de agradar, nem me passaria pela cabeça deixar de escrever como sinto ou quero para que me achem bonzinho.

A senhora terá de ir bater a outra porta.