sábado, janeiro 5

Êxodo

Hoje, durante horas, na autoestrada que de Burgos leva a Bayonne, e com as intermináveis rectas das Landes segue para Bordéus e outros longes, foi grande a minha satisfação, maior ainda o orgulho de ser português.Ultrapassou-me um incrível número de coches, todos do melhor e do mais chique, todos de matrícula suíça, carreando - a ajuizar pelas feições - centenas de compatriotas.
Audis, Touaregs, Cayennes, Mercedes, nunca antes vi tantos juntos, nem semelhante êxodo.
Natal consoado, Ano-Novo findo, é o fim-de-semana em que a boa gente deixa a Pátria e se vai a labutar. Deus os abençoe e, a seu tempo, ensine o comedimento que permite a imunidade às crises.
Tudo isso, porém, é acessório. O que me ocupa neste fim do dia, a repousar num quarto do Novotel, em Poitiers, de um estirão de oitocentos quilómetros, é que a maioria daqueles impressionantes carrões levava decalcada nos vidros traseiros, em desmesurado tamanho, ora uma Cruz de Cristo e esfera armilar, ora o nome de Portugal em letras artisticamente estiladas.
Gostei, francamente gostei. Enterneci-me. Dei comigo a sorrir. Por isso compreendo mal como é que, repensando, me dá agora para a melancolia