É uma questão de
terapêutica, mas também higiene mental, o esforço que vou fazer para pensar
menos na política do meu país – passada, presente, futura – e dedicar-me
ao comezinho do dia-a-dia.
Nesse incluirei a vista
de olhos que dou ao Observador. Assino-o desde o primeiro número, e
durante muito tempo li-o com interesse e atenção. Contudo, embora me mereçam
respeito alguns dos seus colaboradores, que se distinguem pela qualidade do que
escrevem e a sinceridade do pensamento, o Observador como que se
tornou, não só uma feira das vaidades, mas oferece o desanimador espectáculo de
dar guarida a gente que, inchada com a própria importância, e não sujeita aos
limites de um jornal em papel, mediocramente se estende sobre os seus cavalos
de batalha. Exemplar foi a recente e exótica publicação da charla de um jovem
membro da aristocracia neerlandesa, a arrotar postas de pescada com a sua douta
opinião sobre o torvelinho da política em Portugal.
O que atrás fica
chegaria para o meu melancólico desencanto, porque o Observador arrancou
bem, durante alguns anos assim se manteve, mas pouco tardou para que, indo de
vento em popa, cedesse ao negócio, mostrando mais interesse pelos minuetes da
corte de Lisboa do que pelo resto do país. E do que nele chamam “o interior”
não vale a pena falar.
Há
ainda a sua visível tendência woke. Triste sinal dos tempos, prova-o a
realidade há pouco assinalada pelo redactor-chefe do New York Times:
“actualmente não são os jornalistas que receiam o redactor-chefe, mas é este
que tem medo da woke dos jornalistas”.
Essas são, pois,
algumas das razões por que este mês direi adeus ao Observador, mas a que
realmente dói fundo, é que nele haja lugar para analfabetos e ignorantes que
desprezam a Língua Portuguesa, dando de barato a nobre função que um jornal
deve ter.